Instituto Lauro de Souza Lima

Um dos importantes acervos da área de Saúde Pública do Estado de São Paulo é constituído pelo Museu do Instituto "Lauro de Souza Lima", antigo asilo-colônia "Aimorés". A trajetória da instituição, modelo de construção e funcionamento prende-se a um todo maior a história da hanseníase e das políticas públicas de Saúde de nosso Estado. O Aimorés foi criado a partir das iniciativas realizadas pelos municípios da região Noroeste, que em 1927 se integraram no "Convênio das Municipalidades" e, em reunião realizada em 25 de setembro se comprometeram a destinar 10% de suas rendas anuais para a construção de um asilo que fosse grande o suficiente para abrigar os doentes existentes em toda a região. Criada a Comissão Pró-Leprosos de Bauru que, com as verbas arrecadadas, adquiriu uma fazenda de 400 alqueires e deu início à construção. Em 1930 as obras foram confiadas à Liga de São Lázaro de Bauru, composta por prefeitos de 64 municípios. Em 1933 o Aimorés foi encampado pelo Estado que promoveu sua inauguração em 13 de abril de 1935. 


O Estado de São Paulo, visando a eliminação da crescente endemia de "lepra" adotou a política oficial de controle profilático baseada no isolamento compulsório de todas as pessoas que fossem identificadas como portadoras da doença. A presença de centenas de doentes que acampavam pelo interior do Estado, perambulavam pelas estradas e esmolavam pelas cidades, era vista como um perigo que deveria ser eliminado assim, as autoridades criaram espaços para alojar os milhares de doentes com respaldo político para as ações realizadas, mas por outro lado precisavam envolver, setores organizados da sociedade civil de forma a conseguir os grandes aportes financeiros que se faziam necessários. Era de grande importância obter a confiança da comunidade científica, em especial da área médica e jurídica, afim de que fosse criada de uma legislação específica que permitisse a exclusão de milhares de pessoas, bem como o gerenciamento de suas vidas. Para o sucesso do plano profilático paulista era ainda imprescindível que se convencesse a população da necessidade de adoção das medidas isolacionistas, para tanto foi desenvolvida todo um programa "educativo" centrado na periculosidade dos doentes fazendo com que esses fossem encaminhados, de maneira voluntária ou não, para os serviços de diagnóstico o que, via de regra, significava internação.


A partir desses esforços o Estado pode criar uma rede, que permitia a cobertura estadual, composta de cinco grandes asilos-colônia localizados em pontos estratégicos do Estado: Santo Angelo, Cocais, Pirapitingui, Aimorés e Padre Bento. A administração era centralizada na sede do D.P.L, localizado na Capital que organizava uma espécie de "Modelo Paulista" que influenciou os demais Estados da Federação. Cada um dos asilos dispunha das instalações, mais ou menos padronizadas, tidas como necessárias para a reconstrução de um mundo à parte capaz de abrigar um grande número de pessoas, sendo que a maioria passaria ali toda sua vida. O Aimorés considerado como a instituição modelar, uma espécie de "cartão de visitas", como demonstra um filme realizado pelo D.PL. em 1944, cujo objetivo era divulgar o serviço profilático paulista por todo o país.


O volume de verbas angariadas, o apoio governamental e a estrutura implantada facilitavam também as pesquisas, e os médicos do D.P.L. passaram a ser considerados como uma espécie de elite entre os hansenólogos do país. São Paulo passou a figurar como ponto de referência a ser visitado, em especial pelos latino-americanos.


A arquitetura desses asilos foi inspirada no modelo norte-americano de Carville, e o estilo e formas da construção reproduziram as idéias do arquiteto Adelardo Soares Caiuby, autor da planta do Asilo de Santo Angelo, o primeiro grande asilo a ser construído. O projeto previa uma rígida divisão espacial. Eram divididos em Zona Sã e Zona doente, tendo entre elas uma Zona intermediária. A primeira era destinada ao pessoal técnico e administrativo sadios, nela se encontravam a portaria, almoxarifado, garagem, administração e demais serviços. A Zona intermediária, em geral, abrigava o pavilhão de economia geral, o posto de fiscalização de visitas e o parlatório. A Zona Doente abrigava o asilo propriamente dito e ali estavam instalados o Hospital, pavilhão de clínicas, os dormitórios coletivos, as casas para doentes casados, a cadeia, o cine-casino, a igreja e a parte esportiva. Projetados visando a auto suficiência, tinham uma grande área reservada para atividades agropecuária, destinada a prover grande parte do consumo alimentar necessário, era ainda dotado de pequenas fábricas e oficinas. O lazer dos internos foi sempre objeto de preocupação na construção dos asilos: contavam com quadras esportivas, jardins, praças e quiosques, havia ainda um prédio especialmente construído para centralizar diferentes atividades: o Cassino.


O prédio do Cassino do Aimorés obedecia a uma espécie de padrão que poder ser observado nos outros asilos-colônia, contava com um grande salão que era utilizado para projeção de filmes, apresentações teatrais realizadas pelos próprios internos, e ainda como salão de bailes. Na parte de frente era dotado de duas grandes salas que abrigavam biblioteca, mesas de jogos, de bilhar e uma espécie de café. O conjunto arquitetônico formado pelo prédio do cassino, igreja, coreto e residências coletivas tipo Carvilles, foi submetido para processo de tombamento no CONDEPHAAT em 1991, e foi considerado bem de importância histórica pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Turístico do Estado conforme processo nº 001-15.652-91-0, publicado no Diário Oficial em 2016.


O Instituto Lauro de Souza Lima, antigo Asilo-Colônia Aimorés, foi acumulando coleções científicas da área médica, tanto nacional como internacional, registros do acompanhamento médico dos doentes, prontuários, filmes, slides, coleções de fotografias e negativos em vidro que abrangem tanto a vida do doente dentro da instituição, como a trajetória da doença. Dessa forma a documentação reunida permite que se desenvolvam importantes estudos tanto na área biomédica, como também nas ciências humanas. O modelo de internação compulsória adotado no Estado de São Paulo, a partir da década de trinta e que se estendeu até fins da década de 60, se constitui em importante fonte para os estudos ligados as instituições totais, bem como dos fenômenos gerados pela exclusão social, preconceito, marginalidade social bem como dos mecanismos do poder (Monteiro,1995).


Aos poucos, ao acervo referente a hanseníase, foram sendo agregados outros fundos documentais como do DPL, documentação e prontuários do antigo Instituto da Saúde, acervos pessoais ligados à pesquisa, ampliando o leque temático para diferentes outros campos da dermatologia.


O Museu foi sendo pensado pelos próprios funcionários desde a década de 80, alguns tiverem uma posição de destaque como Dr. Opromolla, que entendeu a necessidade de preservar o patrimônio marcado pelos sujeitos que viveram, trabalharam e visitaram o território.


Instalado no cine/cassino reformado, o museu tem uma exposição de longa duração que permite a visitação espontânea e agendada de grupos, colabora com serviço educativo do instituto e salvaguarda da memória da pesquisa, ensino e assistência a doentes. Incentivando a reflexão histórica e cultural da região, revisão crítica sobre qualidade de vida de cidadãos marginalizados socialmente e o impacto do estigma da lepra/hanseníase em indivíduos, famílias e sociedade. 

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